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Como fazer Pães e Cozinhar ajudam a minha Introversão

Atualizado: 14 de jul. de 2021

Nasci e cresci numa família de ascendência italiana em que tudo acontece na cozinha. Está triste? Come que melhora! Está feliz? Come para celebrar! Está em dúvida? Toma vinho que ajuda a decidir!


Nossos encontros e decisões na vida sempre foram nesse ambiente. Alguém sempre dizia “Vamos para a sala que é maior!”. Todos silenciavam (fato raro) e essa frase era vista quase como um insulto. Afinal, a cozinha é quentinha, podemos ir experimentando a comida, partindo o pão sobre a mesa enchendo-o de azeite e jamais deixando a taça vazia.


Eu observava tudo silenciosamente, pois do barulho minha família se encarregava. Todavia, a transformação de todos aqueles ingredientes em algo tão cheiroso e saboroso me fascinava.


Aos 6 anos de idade minha professora nos pediu que lesse um livro chamado “Panela de Arroz”, do Luís Camargo, que contava a história de um grão de arroz desde o plantio até parar na panela de arroz e se transformar. Nem precisa dizer que terminei a leitura me dirigi a cozinha e bradei “Mãe, vou fazer arroz!”. Assim nasceu meu primeiro arroz. Até hoje conto 2 dedinhos de água acima do arroz para ficar na consistência certa.


Prossegui com minha jornada de descobertas culinárias. Minha avó me ensinou a fazer curau (amo!) e é uma das minhas memórias favoritas de infância. Eu era uma menina quieta no meio da multidão e me expressava com gestos através da comida.


Cozinhar é algo que se faz com calma, sem apressar as coisas, entendendo o tempo de cada ingrediente e respeitando. Se você for fazer um estrogonofe e colocar toda a carne de uma vez só, criará água, demorará mais tempo e a carne ficará mais dura. A cozinha é um local que me dá paz e tranquilidade, sem sobrecarga sensorial, foco no que estou fazendo, coloco uma música, encho minha taça de vinho e crio livremente. É uma pausa pacífica do mundo estressante e barulhento. O que mais um introvertido poderia precisar?


No começo da pandemia fui obrigada a encarar meu maior pavor culinário: assar pães! Pães tem um temperamento difícil. É necessário ter muita paciência. Eles não se entregam assim facilmente. Tem fermentações diferentes, que atuam de formas diferentes. Quanto mais pura a farinha, melhor o resultado. Porém, só farinha não produz bom pão.


As circunstâncias precisam estar certas, se adicionar água muito quente, o fermento morrerá. Se adicionar muito sal ou farinha obterá uma textura totalmente diferente do que fez anteriormente. Se a temperatura da cozinha estiver diferente, o tempo de crescimento do pão será diferente. Tudo é situacional. A forma como a levedura responde ao ambiente é muito parecida com a forma como os introvertidos respondem ao ambiente em que se encontram.


Quanto mais a massa repousar, mais ela vai crescer e mais aerado e gostoso será o resultado do pão. Assim como os introvertidos precisam ser deixados sozinhos para que funcionem e façam suas coisas, o pão é praticamente igual. Se você ficar olhando para o pão esperando que ele cresça, de alguma forma ele, simplesmente, não vai. O pão é um pouco temperamental, enganosamente reservado e absolutamente delicioso quando feito da maneira certa.


Para os introvertidos, é muito difícil expressar a necessidade de "preciso de espaço e silêncio", pois podem ser mal interpretados. Ter alguém que reconheça os sinais de cansaço, ​​sem julgar, ou achar que você o ama menos, é muito importante. Quanto mais eu pratico, mais percebo que cozinhar é uma forma de arte que pode ajudar os introvertidos a abraçar sua natureza tranquila.


Há algo tão relaxante em cozinhar e assar pães. Talvez seja a experiência sensorial completa que me permite ver, tocar, saborear, cheirar e ouvir a massa mudando de forma no forno e quando corto o pão pronto. É uma satisfação enorme! Ao envolver todos os sentidos sem criar uma armadilha mental avassaladora, assar atua como uma espécie de atenção plena.


É apenas uma coisa para me concentrar. É tão interessante para mim que a farinha quando misturada com os ingredientes certos, pode se tornar pão, massa de pizza, bolo, massas etc. As possibilidades são infinitas! Sempre haverá outra receita para tentar. Eu também gosto de cozinhar na companhia de uma ou duas outras pessoas. Possibilita uma experiência compartilhada, que aproxima as pessoas. Sempre aprendo algum novo truque e garante boas risadas.


Embora muitos introvertidos possam ser bastante expressivos na comunicação, especialmente ao escreverem, cozinhar para os outros é uma linguagem de amor que introvertidos usam para mostrar que se importam. Fazer um bolo de aniversário para um amigo mostra que está feliz por ele. Entregar uma refeição caseira demonstra que está lá em um momento de necessidade. Fazer sequilhos e levar para alguém é uma forma de demonstrar que gosta e se importa. Para muitos introvertidos, as ações realmente falam mais alto que as palavras e dizem:

“posso não falar muito, mas você é importante para mim (e espero que goste deste bolo)”.


Na verdade, introvertidos não são tímidos e, muito menos, antissociais. Eles adoram passar tempo com outras pessoas, principalmente as que eles amam e fazem parte de seu pequeno e privilegiado círculo de pessoas que o conhecem profundamente, mas se tiverem passado o dia todo trabalhando, entrando e saindo de reuniões, cercado por muita informação e pessoas, precisará de algum tempo de inatividade antes de quererem ver alguém.


Simplesmente eles “descarregam” e precisam plugar seus cabos para carregarem. No caso dos introvertidos isso significa um pouco de espaço e silêncio, que num mundo extrovertido feito para extrovertidos pode ser difícil de entender.


O pão é um lembrete particular de como é ser um introvertido que só precisa de tempo e espaço para crescer, mas se você respeitar seu tempo ele crescerá e será um pão lindo, gostoso e crocante. Da próxima vez que um introvertido precisar de um espaço criativo para um pouco de paz e sossego, tente (ou incentive) a entrar na cozinha e ver o que pode criar.


"Aprenda, pouquinho a pouquinho, refeição a refeição, a alimentar você mesmo e as pessoas que você ama, porque comida é um dos modos de amor ao próximo, enquanto a mesa é um dos mais sagrados lugares de união."

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